Animal Pain

Os gatos receberam menos analgésicos por um longo tempo quando comparados aos cães. Este perfil modificou-se recentemente a partir da criação de escalas específicas para avaliar a dor nesta espécie. A escala pioneira e mais referenciada até o momento é a Escala Multidimensional da UNESP-Botucatu para avaliação de dor pós-operatória em gatos (UFEPS – Unesp-Botucatu Feline Pain Scale), validada em portuguêsinglêsfrancêsespanhol e italiano.

Este instrumento, de forma pioneira na literatura científica mundial, apresenta um critério numérico indicativo de necessidade de intervenção analgésica, ou seja, um valor que representa um ponto de corte a partir do qual se recomenda usar analgésicos, um guia muito importante para aplicar a escala na prática clínica e experimental.

Para torná-la mais prática e de rápida avaliação, desenvolvemos e validamos a versão curta da UFEPS (UFEPS-SF – UFEPS Short Form). Removeram-se os itens “apetite” e “pressão arterial” e se combinaram outros, o que facilita seu emprego em situações clínicas. A UFEPS-SF foi validada em oito línguas (português, inglês, francês, espanhol, italiano, alemão, chinês e japonês).

Leia os tópicos abaixo para conhecer e usar a escala.

Escala Multidimensional da Unesp-Botucatu para avaliar a dor em gatos (UFEPS)

(UFEPS – Unesp-Botucatu Feline Pain Scale)

A Escala Multidimensional da Unesp-Botucatu para avaliar a dor em gatos (UFEPS) apresenta 10 características divididas em 3 dimensões ou subescalas:

1) Alteração psicomotora (postura, conforto, atividade, atitude)

2) Proteção da área dolorosa (miscelânea de comportamentos, vocalização, reação à palpação da área afetada, reação à palpação do abdome/flanco)

3) Variáveis fisiológicas (pressão arterial, apetite)

Pontua-se cada característica entre 0 (estado normal) e 3 (maior escore possível).

Diretrizes para a avaliação:

A estrutura multidimensional da escala possibilita o uso separado de duas das três dimensões (subescalas), que apresentam um ponto de corte analgésico independente. Por exemplo, quando o animal não permite a avaliação (proteção da área dolorosa ou variáveis fisiológicas), ou por dificuldades técnicas (variáveis fisiológicas), pode-se não avaliar tais subescalas (dimensões). Neste caso, pode-se avaliar apenas a subescala “alteração psicomotora”, incluindo-se ou não a subescala “expressão da dor”.

Para cada item ou característica, escolha apenas um item (escore) referente ao maior escore representativo do comportamento do animal. Inicialmente, observe o comportamento do gato sem abrir a gaiola. Verifique se ele está em descanso (decúbito ou sentado) ou em movimento; interessado ou desinteressado no ambiente; em silêncio ou vocalizando. Examine a presença de comportamentos específicos (item “miscelânea de comportamentos”).

Abra a gaiola e observe se o animal prontamente se movimenta para fora ou hesita em sair. Aproxime-se do gato e avalie sua reação: amigável, agressivo, assustado, indiferente ou vocaliza. Toque no gato e interaja com ele, observe se está receptivo (se gosta de ser acariciado e/ou demonstra interesse por brincadeiras). Se o gato hesitar em sair da gaiola, incentive-o a se mover por meio de estímulos (chamando-o pelo nome e acariciando-o) e manipulação (alterando sua posição corporal e/ou retirando-o da gaiola). Observe se fora da gaiola o gato se movimenta espontaneamente, ou de forma reservada, ou reluta em se mover. Ofereça alimento palatável e observe a resposta. Para a avaliação do apetite no pós-operatório imediato, ofereça uma pequena quantidade de alimento palatável (por exemplo, ração úmida enlatada) logo após a recuperação anestésica. Neste momento, a maioria dos gatos irá comer, independente da presença ou ausência de dor. Aguarde um pequeno período, ofereça alimento novamente e observe a reação do animal.

Para finalizar, registre gentilmente a pressão arterial. Observe a reação do animal quando o abdome/flanco é inicialmente tocado (apenas deslize os dedos sobre a área) e na sequência gentilmente pressionado (aplique com os dedos uma pressão direta sobre a área). Aguarde um pouco e realize o mesmo procedimento para avaliar a reação do gato à palpação da área afetada.

Escala Multidimensional da UNESP-Botucatu para avaliar dor em gatos (UFEPS)

SUBESCALA 1: ALTERAÇÃO PSICOMOTORA (varia de 0 a 12; ponto de resgate analgésico > 3)

1. Postura

Escore

Vídeos

O gato está em uma postura considerada natural para a espécie e com seus músculos relaxados (ele se movimenta normalmente)

0

O gato está em uma postura considerada natural para a espécie, porém seus músculos estão tensos (ele se movimenta pouco ou está relutante em se mover)

1

O gato está sentado ou em decúbito esternal (deitado com o abdome para baixo) com suas costas arqueadas e cabeça abaixada, ou o gato está em decúbito dorsolateral (deitado com o abdome para cima, ligeiramente de lado) com seus membros pélvicos (patas traseiras) estendidos ou contraídos

2

O gato altera frequentemente sua posição corporal na tentativa de encontrar uma postura confortável

3

2. Conforto

Escore

Vídeos

O gato está confortável, acordado ou adormecido, e receptivo; quando estimulado ele interage com o observador e/ou se interessa pelos arredores

0

O gato está quieto e pouco receptivo; quando estimulado ele interage pouco com o observador e/ou não se interessa muito pelos arredores

1

O gato está quieto e “dissociado do ambiente” (mesmo se estimulado, ele não interage com o observador e/ou não se interessa pelos arredores). O gato pode estar voltado para o fundo da gaiola

2

O gato está desconfortável, inquieto (altera frequentemente a sua posição corporal) e “dissociado do ambiente” ou pouco receptivo quando estimulado. O gato pode estar voltado para o fundo da gaiola

3

3. Atividade

Escore

Vídeos

O gato se movimenta normalmente (se mobiliza prontamente quando a gaiola é aberta; fora da gaiola se movimenta de forma espontânea após estímulo ou manipulação)

0

O gato se movimenta mais que o normal (dentro da gaiola ele se move continuamente de um lado a outro)

1

O gato está mais quieto que o normal (pode hesitar em sair da gaiola e, se retirado, tende a retornar; fora da gaiola, se movimenta um pouco após estímulo ou manipulação)

2

O gato está relutante em se mover (pode hesitar em sair da gaiola e, se retirado, tende a retornar; fora da gaiola, não se movimenta, mesmo após estímulo ou manipulação)

3

4. Atitude: Observe e assinale a presença dos estados mentais listados abaixo.

Vídeos

A – Satisfeito: O gato está alerta e interessado no ambiente (explora os arredores); amigável e interagindo com o observador (brinca e/ou responde a estímulos). O gato pode inicialmente interagir com o observador por meio de brincadeiras para se distrair da dor. Observe com atenção para diferenciar distração, brincadeiras e satisfação

B – Desinteressado: O gato não está interagindo com o observador (não se interessa por brincadeiras ou brinca um pouco; não responde aos chamados e carinhos do observador). Nos gatos que não gostam de brincadeiras, avalie a interação com o observador pela resposta do gato aos chamados e carinhos

C – Indiferente: O gato não está interessado no ambiente (não está curioso; não explora os arredores). O gato pode inicialmente ficar receoso em explorar os arredores. O observador deve manipular o gato (retirá-lo da gaiola e/ou alterar sua posição corporal) e encorajá-lo a se movimentar

D – Ansioso: O gato está assustado (tenta se esconder ou escapar) ou nervoso (demonstra impaciência e geme ou rosna ou sibila – produz som agudo e prolongado, assopra; assobia) ao ser acariciado e/ou quando manipulado

E – Agressivo: O gato está agressivo (tenta morder ou arranhar ao ser acariciado e/ou quando manipulado)

Escore

Presença do estado mental A

0

Presença de um dos estados mentais B, C, D ou E

1

Presença de dois dos estados mentais B, C, D ou E

2

Presença de três ou de todos os estados mentais B, C, D ou E

3

SUBESCALA 2: EXPRESSÃO DA DOR (varia de 0 a 12 pontos; ponto de resgate analgésico > 2)

1. Miscelânea de comportamentos: Observe e assinale a presença dos comportamentos listados abaixo.

Vídeos

A – O gato está deitado e quieto, porém movimenta a cauda

B – O gato está contraindo e estendendo os membros pélvicos  (patas traseiras) e/ou o gato está contraindo os músculos abdominais (flanco, região lombar, “costas”)

C – O gato está com os olhos parcialmente fechados (olhos semicerrados)

D – O gato está lambendo e/ou mordendo a área afetada

Escore

Todos os comportamentos acima descritos estão ausentes

0

Presença de um dos comportamentos acima descritos

1

Presença de dois dos comportamentos acima descritos

2

Presença de três ou de todos os comportamentos acima descritos

3

2. Vocalização

Escore

Vídeos

O gato está em silêncio; ou ronrona quando estimulado; ou mia interagindo com o observador; porém não rosna, geme ou sibila

0

O gato ronrona espontaneamente (sem ser estimulado ou manipulado pelo observador)

1

O gato rosna ou geme ou sibila quando manipulado pelo observador (quando a sua posição corporal é alterada pelo observador)

2

O gato rosna ou geme ou sibila espontaneamente (sem ser estimulado e/ou manipulado pelo observador)

3

3. Reação à palpação do abdome/flanco

Escore

Vídeos

O gato não reage quando o abdome/flanco é tocado e quando pressionado; ou não altera a sua resposta pré-operatória ou de seu estado normal (se avaliação basal foi realizada). O abdome/flanco não está tenso

0

O gato não reage quando o abdome/flanco é tocado, porém ele reage quando pressionado. O abdome/flanco está tenso

1

O gato reage quando o abdome/flanco é tocado e quando pressionado. O abdome/flanco está tenso

2

O gato reage quando o observador se aproxima do abdome/flanco, podendo vocalizar e/ou tentar morder. O gato não permite a palpação do abdome/flanco

3

4. Reação à palpação da área afetada

Escore

Vídeos

O gato não reage quando a área afetada é tocada e quando pressionada; ou não altera a sua resposta pré-operatória ou de seu estado normal (se avaliação basal foi realizada)

0

O gato não reage quando a área afetada é tocada, porém ele reage quando pressionada, podendo vocalizar e/ou tentar morder

1

O gato reage quando a área afetada é tocada e quando pressionada, podendo vocalizar e/ou tentar morder

2

O gato reage quando o observador se aproxima da área afetada, podendo vocalizar e/ou tentar morder. O gato não permite a palpação da área afetada

3

SUBESCALA 3: VARIÁVEIS FISIOLÓGICAS (varia de 0 a 6 pontos; não há ponto de resgate analgésico definido para esta subescala)

1. Pressão arterial

Escore

0% a 15% acima do valor pré-operatório

0

16% a 29% acima do valor pré-operatório

1

30% a 45% acima do valor pré-operatório

2

> 45% acima do valor pré-operatório

3

2. Apetite

Escore

Vídeos

O gato está comendo normalmente

0

O gato está comendo mais que o normal

1

O gato está comendo menos que o normal

2

O gato não está interessado no alimento

3

Total

0 – 30

Após assistir aos vídeos de cada subitem da escala, assista aos vídeos testes seguintes e avalie a sua habilidade em usá-la. Após assistir cada vídeo, pontue o escore de cada item que mais se aproxima do comportamento do animal. A seguir compare seu resultado com o gabarito. Você estará apto a usar a escala quando a soma total dos escores de cada vídeo for até 20% maior ou menor que o resultado do gabarito em ao menos três testes (exemplo: se o escore total do gabarito for 10, seus resultados devem ser entre 8 e 12).

Decisão para realizar analgesia*

Pontuação máxima

Escore de intervenção analgésica

(ponto de corte)

Escala completa

30

≥ 8

Subescala 1 – alteração psicomotora

12

≥ 4

Subescala 2 – expressão da dor

12

≥ 3

Subescalas 1 + 2

≥ 7

* Independente do escore, cabe ao médico veterinário usar ou não analgesia de acordo com a avaliação clínica.

Após ler e treinar os itens anteriores, clique abaixo para avaliar a dor de seu animal.

Formulário Curto da Escala da Unesp-Botucatu para avaliar dor em gatos (UFEPS-SF)

(UFEPS-SF Short Form of the Unesp-Botucatu Feline Pain Scale)

Formulário Curto da Escala da Unesp-Botucatu para avaliar dor em gatos (UFEPS-SF)

ALTERAÇÃO PSICOMOTORA

Descrição

Pontuação

Vídeos

1. Avalie a postura do gato no gatil por 2 minutos

Natural, relaxado e/ou se movimenta normalmente

0

Natural, mas tenso, não se movimenta ou se movimenta pouco ou está relutante em se mover

1

Postura arqueada e/ou decúbito dorsolateral (deitado com o abdome para cima, ligeiramente de lado)

2

Muda de posição frequentemente ou inquieto

3

2. Marque os itens que ocorrem

Vídeos

O gato contrai e estende os membros pélvicos (patas traseiras) e/ou contrai os músculos abdominais (flanco, região lombar)

Os olhos do gato estão parcialmente fechados (não considere este item caso presente até 1 h após o fim da anestesia)

O gato lambe e/ou morde a área afetada

O gato movimenta a cauda fortemente

Pontuação

Todos os comportamentos acima estão ausentes

0

Presença de um dos comportamentos acima

1

Presença de dois dos comportamentos acima

2

Presença de três ou todos os comportamentos acima

3

Descrição

Pontuação

Vídeos

3. Avalie o conforto, atividade e atitude após o gatil ser aberto e o quão atento o gato está ao observador e/ou entorno

Confortável e atento

0

Quieto e pouco atento

1

Quieto e não atento. O gato pode estar voltado para a parte de trás do gatil

2

Desconfortável, inquieto e pouco atento ou não atento. O gato pode estar voltado para a parte de trás do gatil

3

PROTEÇÃO DA ÁREA DOLOROSA

Descrição

Pontuação

Vídeos

1. Avalie a reação do gato ao toque, seguido de pressão ao redor do local dolorido

Não reage

0

Não reage quando o local doloroso é tocado, mas reage quando é pressionado gentilmente

1


Reage quando o local doloroso é tocado ou pressionado

2

Não permite palpação

3

Após assistir aos vídeos de cada subitem da escala, assista aos vídeos testes seguintes e avalie a sua habilidade em usá-la. Após assistir cada vídeo, pontue o escore de cada item que mais se aproxima do comportamento do animal. A seguir compare seu resultado com o gabarito. Você estará apto a usar a escala quando a soma total dos escores de cada vídeo for até 20% maior ou menor que o resultado do gabarito em ao menos três testes (exemplo: se o escore total do gabarito for 10, seus resultados devem ser entre 8 e 12).

Teste 01    Teste 02    Teste 03    Teste 04    Teste 05    Teste 06    Teste 07    Teste 08    Teste 09     Teste 10

Decisão para realizar analgesia*

Pontuação

Escore de intervenção analgésica

(ponto de corte)

UFEPS-SF

0 a 12

≥ 4

UFEPS-SF: itens 1 + 2 + 3 

(excluindo item 4 – reação ao toque)**

0 a 9

≥ 3

Zona de incerteza diagnóstica da UFEPS-SF: escores entre 3 e 5

Escala numérica

1 a 10

≥ 4

Escala simples descritiva

1 a 4

≥ 3

Escala analógica visual

0 – 100 mm

≥ 31 mm

* Independente do escore, cabe ao médico veterinário decidir entre usar ou não analgésicos de acordo com a avaliação clínica.

** Quando não for possível realizar a palpação da área dolorosa.

Após ler e treinar os itens anteriores, clique abaixo para avaliar a dor de seu animal.